quarta-feira, 25 de maio de 2011

Abordagem sobre “grupos” em redes sociais

Trabalho apresentado à disciplina de Técnicas e Processos Grupais, sob orientação da Professora Flávia Nunes. 



INTRODUÇÃO
Trataremos sobre o conceito de grupos e comunidades virtuais, bem como faremos uma breve discussão acerca de um grupo de mulheres anoréxicas que compartilham essa doença, umas com as outras, sustentando-a através dessa relação cibernética.

GRUPOS E COMUNIDADES VIRTUAIS

Inicialmente, traremos aqui alguns conceitos de grupo para mais adiante defini-los com clareza. De acordo com Émile Durkheim (1999):

“A partir do instante em que, no seio de uma sociedade política, certo número de indivíduos tem em comum idéias, interesses, sentimentos, ocupações que o resto da população não partilha com eles, é inevitável que, sob influência dessas similitudes, eles sejam atraídos uns para os outros, que se procurem, teçam relações, se associem e que se forme assim, pouco a pouco, um grupo restrito, com sua fisionomia especial no seio da sociedade geral”.

Já Kurt Lewin (1939), define grupo da seguinte forma:
“O termo grupo é tomado para designar dois ou mais indivíduos que compartilham de um conjunto de normas, crenças e valores, e que, implícita ou explicitamente, mantêm relações definidas de tal forma que o comportamento de cada um traz conseqüências para os demais”.

Lewin traz algumas características que são essenciais na definição de grupo, tais como: a necessidade de um objetivo em comum; que este objetivo seja capas de satisfazer às necessidades do grupo; e a interação dos membros do grupo como algo fundamental.
Se juntarmos essas definições, teremos aqui uma breve conclusão de que um grupo é formado por indivíduos que tem um objetivo em comum, com características semelhantes, uma vez que precisam de uma interação entre si para manter-se grupo.
Em se tratando de conceituação dos grupos virtuais, tema do nosso trabalho, é preciso perceber a existência de pessoas que estabelecem, entre si, relações sociais cibernética. Essas relações são construídas através da interação mútua entre as pessoas, em um determinado período de tempo, ou por tempo indeterminado.
Surge então, a comunidade virtual. Essas comunidades foram recentemente criadas por um grupo de indivíduos que interagem na internet, através da comunicação mediada pelas redes de computadores.
Em 1994, Rheingold foi um dos primeiros autores a utilizar o termo "comunidade virtual" para os grupos humanos, definindo-a da seguinte maneira:
"As comunidades virtuais são agregados sociais que surgem da Rede [Internet], quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões públicas durante um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações pessoais no espaço cibernético [ciberespaço]."

No entanto, para Lévy (1999), uma comunidade virtual é formada por afinidades de interesses, de conhecimentos, de projetos mútuos e valores de troca, sempre estabelecidos num processo de cooperação. De acordo com ele, as pessoas que participam dessas comunidades virtuais como Orkut, Facebook, Twitter, estão longe de serem frias, uma vez que elas não excluem as emoções e sentimentos.

Verificamos ainda, que nessa relação virtual desenvolve-se um conceito de moral social, como se fossem leis que governam o grupo, de acordo com as informações da comunidade. Sendo assim, o próprio grupo se organiza e se auto-regula, caso contrário, não se encaixaria no que podemos chamar de comunidade.

No ciberespaço, a opinião individual de cada pessoa que participa de uma determinada comunidade, é muito importante para o julgamento público, uma vez que suas opiniões serão julgadas de forma imediata pelo resto do grupo.

Como em todo grupo, nas comunidades virtuais surge também um líder, aquele que na maioria das vezes se destaca entre os outros, exercendo influência sobre todos. Alguns papéis são assumidos naturalmente com o tempo, portanto, sempre há aquele que é “contestador”, “implicante”, “ofensivo”, sendo essencial para a construção de um grupo.

ANOREXIA NAS REDES SOCIAIS

Trataremos agora sobre grupos de mulheres anoréxicas que criam comunidades virtuais, como blogs, por exemplo, para poder sustentar a doença (anorexia) compartilhando suas atividades diárias com uma única finalidade: emagrecer.

Após a definição de grupo virtual baseado nos autores acima, pode-se constatar que, neste caso, as mulheres anoréxicas criam esse tipo de relação virtual para não se sentirem sozinhas, pois procuram pessoas que tenham as mesmas intenções e objetivos, definindo-as assim, como um grupo virtual.

Ao analisarmos o blog - http://proana-4ever.blogspot.com/2011_03_01_archive.html - durante um período de um mês, percebemos com clareza, que a interação entre as garotas é mútua, uma cooperando com a outra, ficando nítido o propósito de fortalecer os laços que suportam as comunidades e, conseqüentemente, os transtornos alimentares.

Normalmente, blogs como este são de fácil acesso, qualquer pessoa pode “seguir”, tendo algumas características comuns: em sua maioria são mórbidos, frios, trazendo sempre fotos de mulheres magras que fazem questão de exibir seu processo de emagrecimento. Vale ressaltar que é proibido qualquer tipo de julgamento negativo, pois caso contrário, a pessoa é excluída imediatamente do blog.

Para essas relações serem sólidas, a confiança é fundamental. Em visita a este blog de “Ana”, termo utilizado pelas garotas como abreviação de anorexia, todos os comentários são de incentivo para não comer, ou, para fazer uma dieta de “água e alface”. Isso na verdade é justamente o que elas procuram, pois faz com que acreditem que não estão sozinhas.

Abaixo um depoimento postado no blog de uma das garotas que sofrem dessa doença:

“Eu louvo e glorifico a Ana (anorexia) todos os dias da minha vida. Hoje, posso dizer que não sou mais aquela porca que comia sem culpa. Hoje, sou feliz, inteiramente feliz por ela ter me dado a sua bênção. Posso sentir ela me dominar, me consumir. Sinto-a em minhas veias, em meu sangue. Eu a amo!!!” (G. M. 21 anos)

Esse tipo de depoimento é encontrado diariamente em diversos blogs, a fim de conseguir apoio para continuarem doentes, elas trocam dicas sobre como emagrecer mais rápido, ou até mesmo, trocam nomes de remédios que emagrecem de forma inadequada.

É interessante a relação virtual dessas mulheres, pois se observarmos bem, elas encontram na internet um “apoio” mais rápido e eficaz para sustentar a doença. Isso porque, no espaço cibernético é mais fácil começar uma relação de confiança, já que as pessoas ficam mais abertas e desinibidas quando estão em frente a um computador.

CONCLUSÃO
Após analisarmos o conceito de grupos virtuais, fica claro que esse tipo de relacionamento na internet, se enquadra neste conceito de “grupos”, uma vez que preenche todas as características traçadas pelos autores mencionados.

Portanto, é possível compreender que uma determinada comunidade virtual baseia-se no fato de que todos integrantes daquele grupo buscam um mesmo objetivo, e, conseqüentemente, um mesmo ideal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR, Maria Aparecida Ferreira de. Psicologia aplicada à administração. São Paulo. Editora Excellus, 1992.

DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. 2a. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. XXI.

LÉVY, P. Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.

LEWIN, Kurt. “Field Theory and Experiment”, in Social Psychology, 44, 1939, p. 868-896.

PALACIOS, M. Cotidiano e Sociabilidade no Cyberespaço: Apontamentos para Discussão. Arquivo capturado em 19 de novembro 1998.

RHEINGOLD, Howard. La Comunidad Virtual: Una Sociedad sin Fronteras. Gedisa Editorial. Colección Limites de La Ciência. Barcelona, 1994.




 

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